segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A Bíblia dos Empenados

Traduzido e adaptado de “How to hang when you’re out of shape” in MTBAction, Abril 1997

A gente sabe! A gente sabe! A tua história é a seguinte: ah, e tal, dei umas voltinhas nas férias de verão e não voltei a ter tempo para “pegar” na bike....Não tenhas problemas em admiti-lo. Acontece a muito boa gente.O que se passa é que, agora, queres voltar a pedalar “no duro”, e os teus amigos têm te desafiado, mas estás com problemas, devido ao abaixamento de forma.....e não queres ser deixado para trás nos primeiros passeios.
Todos sabemos que precisas de duas ou três semanitas para “afinares” os pulmões e as pernas, mas, para já, a coisa não está fácil....
Pois é : precisas dos nossos conselhos!Reunimos (à mesa do restaurante, claro) um conjunto de especialistas em férias, petiscos, noitadas e outras “pedaladas”, e fomos saber como é que eles se desenrascam, para aguentar os passeios em BTT, quando estão em baixo de forma.
Ora presta atenção, que a sua “sabedoria” pode vir a ser-te bastante útil.

ESCOLHE BEM OS COMPANHEIROS DE PASSEIO
Não transformes a tua primeira volta, depois de seis semanas, seis meses ou seis anos de paragem, num pesadelo, indo pedalar com os “pros” da tua rua. Eles são uns carniceiros! Sobem tudo, descem a abrir, e nunca param para apreciar a paisagem. Na primeira subida, vais ficar irremediavelmente arredado....e quando chegares ao carro, no fim da volta, já eles tomaram banho, almoçaram e foram passear com a família.
Também há aqueles, menos “racers”, que esperam por ti no cimo de cada subida, mas, assim que lá chegas, eles arrancam imediatamente sem te darem tempo para “respirar”. Naaa, com estes também não! Os que realmente interessam são os “verdadeiros amigos”, aqueles que chegam lá acima, voltam para baixo de novo e te acompanham e incentivam na subida, até dão um empurrãozito e tudo... esses sim! Esses nunca te abandonarão, parecem gostar do ritmo lento e param muitas vezes, mesmo sem aparente razão (excepto o ar branco/azulado que a tua cara começa a ter...).

ESCOLHE O PERCURSO
Bom, escolhidos os companheiros, há que fazer campanha a favor de um percurso relativamente plano, preferencialmente com zonas técnicas onde a velocidade seja lenta.
Quando combinares o passeio diz logo que não estás numa de grandes subidas e não embales nas “facilidades” que te vão evidenciar....
Escolhe uma zona conhecida e em que as subidas, se as houver, se concentrem mais na primeira metade da volta, e nunca no final!

PEDALA COM UM GRUPO NUMEROSO
Se te “convencerem” a fazer uma volta num percurso que achas que está um bocado acima das tuas actuais capacidades, procura garantir que um grande número de companheiros se vai juntar ao grupo. Fazer as primeiras voltas, depois de algum tempo de inactividade, com um grande grupo é importante. Porquê? Simples: porque quanto maior e mais heterogéneo for o grupo, menos rápido se anda. Podes ir sempre na cauda do grupo e ter companhia garantida. Com muita gente, há sempre alguém que não está “assim tão bem”, há sempre um furo, uma corrente que salta.... aproveita para parar e ajudar os amigos com problemas, ninguém vai reparar que realmente estás é a descansar.

CONVIDA UM PRINCIPIANTE PARA SE JUNTAR AO GRUPO
Se não conseguires escolher os teus parceiros por forma a garantir as vantagens atrás citadas, se não conseguires levá-los para uma zona plana ou “mais a descer”, então só te resta levares o teu primo Alfredo, que já há uns tempos que gostaria de começar nisto do BTT. Este é, sem dúvida, um dos melhores truques para que um empenado possa salvar a face. Ninguém pode criticar-te por acompanhares o ritmo naturalmente lento do teu “primo” maçarico....

O JOGO DOS 200 METROS
Este é um jogo que um conhecido empenado foi forçado a jogar num dia em que foi dar uma volta com os seus amigos melhor preparados e tomou as seguintes medidas: 1. garantiu que não ia ninguém “craque” no grupo; 2. obrigou-os a fazer um percurso rolante com mais descidas que subidas; 3. convidou dez companheiros, para assegurar muitas paragens e reagrupamentos; 4. levou consigo um amigo que era a quarta vez que andava de BTT. Bem, o artista pensou que estava garantido...
Mas não, mal começou a volta o ritmo acelerou, e ele percebeu rapidamente, que não iria aguentar. Então chamou o amigo principiante e disse-lhe : “Não te coles ao grupo, fica comigo, eu vou sempre 200 metros atrás deles. Mesmo que eles parem, não vás lá para a frente. Mantém-te atrasado para que eles tenham que olhar para trás para ver se ainda cá estamos. O simples facto de nunca nos juntarmos irá reduzir-lhes o andamento. É psicológico, entendes?” O amigo principiante concordou.
Mas como bom principiante, rapidamente se esqueceu e deixou-se “picar” pelo andamento do grupo. O nosso empenado foi mantendo a distância. No final do passeio ele lá ia andando e só nas últimas centenas de metros é que reduziu a distância e se juntou ao pelotão. E o amigo principiante ? – perguntas tu.... bem, à chegada mandaram alguém para trás para o ir buscar.......

INCIDENTE DE CONVENIÊNCIA
Às vezes são necessárias outras estratégias, mais radicais: fazer saltar a corrente, deixar cair o bidão da água, desapertar o espigão do selim, esvaziar a câmara de ar, bem, com tudo isto podem ganhar-se uns vinte minutos de descanso, e os teus amigos pensarão que estás com um azar dos diabos....

ARRANCA ANTES DO GRUPO CHEGAR
O encontro está marcado para as 9 horas. Como já não pedalas há quatro meses, estás um bocado preocupado pelo facto de te juntares de novo à malta para a tradicional e já conhecida volta de 30 e tal km, com algumas dificuldades. O que deve o empenado fazer? Chegar mais cedo, e quando já tiverem chegado alguns, mas não a maioria, arrancas sozinho e dizes à malta que esperas no alto da grande subida. Dá tempo para conseguires lá chegar antes dos outros, mesmo que seja a “penantes”, empurrando a bicla. Aproveita para descansar e, quando eles chegarem, pergunta : “Então, aconteceu alguma coisa ? Demoraram tanto...

ENCONTRO INADIÁVEL
Betetistas em má forma têm que ser criativos. Quando apareceres para uma primeira volta depois de uma paragem prolongada, deves ter sempre algumas desculpas “na manga”. Não, não são desculpas acerca das causa para o maior estiramento da lycra, ou para a tua lentidão. São desculpas para usar quando o empeno aparece.... “ É pá, tenho que ir ter com a minha tia Amélia às 11 horas, vamos ao hospital ver o meu primo Alfredo, que ainda não recuperou desde a última volta que fez com o pessoal”.
Escolhe uma hora que coincida com a tua zona crítica de empeno; para uma volta de três horas, diz que tens que estar no carro hora e meia depois. Quando for altura de regressares sozinho e os teus amigos continuarem, podes passar a pedalar mais devagar e usar aquele ritmo que junto deles te poderia embaraçar.

PENSAMENTO POSITIVO
Se já pedalas há muito tempo, três ou quatro meses de inactividade não te matam ! Os teus músculos têm uma memória a que recorrerão, quando fraquejares. Sim, podes estar em má forma, mas graças à memória muscular, à técnica que não esqueceste e a alguns truques, vais aguentar-te. Depois de duas ou três voltas vais começar a sentir-te como antigamente ! Boas pedaladas (dessas e das outras) !